No sétimo conteúdo da série “As águas de Belo Horizonte”, falaremos sobre a estrutura geológica que recarrega as duas bacias hidrográficas que abastecem a capital
Área está sendo ameaçada por ocupação desordenada de condomínios, empresas e mineradoras e pode fortalecer crise hídrica na Grande BH
Pouca gente sabe, mas existe um coração que recarrega, armazena e bombeia parte da água que abastece a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Em outras três reportagens, nós do Lei.A mostramos que essa água provém de duas bacias hidrográficas: a do Rio Paraopeba e do Rio das Velhas.
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Agora você conhecerá esse coração, essa caixa d’água natural que é a principal fonte de reposição dessas bacias, pois situa-se na região das nascentes dos rios das Velhas (leste) e Paraopeba (oeste), ambos afluentes do Rio São Francisco. Trata-se do Sinclinal Moeda, uma cadeia de montanhas, que se estende por aproximadamente 80 quilômetros, imprescindível no mecanismo natural de produção de água dessa região de Minas Gerais, onde está localizada a Região Metropolitana de Minas Gerais.
O Sinclinal Moeda é formado por rochas com enorme capacidade de absorção e acúmulo de água, o que tem feito dessa região um berçário das águas. É delimitado, de um lado, pela Serra da Moeda e, do outro, pela Serra das Serrinhas, que são as áreas mais altas e correspondem às bordas dessa caixa d’água.

Fonte: IBGE, 2010
O Sinclinal tem ainda grande influência no clima da Região Metropolitana de Belo Horizonte e sua economia tem base no turismo. Entretanto, é perceptível um aumento vertiginoso da ocupação urbana sobre áreas responsáveis por infiltração de água pelo solo e da atividade minerária, que usa essa água de qualidade para lavar e transportar o minério de ferro. Ambas atividades vêm danificando de forma significativa e irreversível essa estrutura geológica, que é fundamental para a conservação da biodiversidade, só encontrada ali, propiciando a manutenção dos serviços ambientais e consequentemente a possibilidade de equilíbrio no abastecimento das populações. A existência dessa degradação é cumulativa e está totalmente relacionada à escassez hídrica vivida pelas duas bacias que abastecem a Grande BH.
Veja em reportagens anteriores do Lei.A como projetos de mineração (link) (link) (link) avançam sobre a área, que faz parte também Serra do Espinhaço (link).
Para entender melhor essa situação e o que é essa caixa d’água, conversamos com o Engenheiro de Minas, Wilfred Brandt, que foi consultor de Programas das Nações Unidas (PNUD, PNUMA e UNESCO), no Brasil, Alemanha, Uruguai, Equador e Venezuela, e também em projetos do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Mundial. Ele foi responsável, dentre outros, pelo Guia Técnico para Atuação do Ministério Público no Licenciamento Ambiental de Atividades de Mineração e pelo Manual para Licenciamento Ambiental Federal no Brasil.
A pressão sobre o Sinclinal
Nos vídeos que acompanham esta reportagem, Brant discorre sobre a importância pela qual devemos conservar áreas nessa região de forma a garantir a permanência do ciclo natural da água.
Abaixo podemos entender a forma dessa estrutura rochosa que permite o acúmulo de água no subsolo do Sinclinal Moeda. O engenheiro também explica o perigo em se usar indiscriminadamente esse recurso hídrico, como estão fazendo mineradoras, empresas e ocupações imobiliárias na região:
A expansão perigosa para cima do Sinclinal
A criação da BR-040 fez com que o acesso à região do Sinclinal Moeda ficasse mais fácil, fazendo surgir na região uma série de movimentos de ocupação. Neste segundo vídeo, Brant fala sobre estes empreendimentos e sobre o envolvimento do próprio Governo de Minas nas ações que usam de forma irresponsável os recursos do Sinclinal:
As raízes indígenas do Sinclinal
De acordo com Brant, um altiplano é uma área extensa situada a uma altura considerável do solo. Por ser tão elevada, era considerada pelos indígenas, há séculos, um lugar de difícil acesso. No último vídeo da série, Brant resgata a história do Sinclinal Moeda e explica toda a área que a estrutura abrange ao longo de seus 80 quilômetros:
O que deputados estão fazendo pelas águas?
No próximo conteúdo da nossa série especial “As águas de Belo Horizonte”, vamos fazer um raio-x sobre o que os deputados estaduais estão fazendo (ou não) pelos recursos hídricos em Minas Gerais. Quais projetos de lei estão nas pautas? As comissões estão ouvindo a sociedade sobre o problema do colapso hídrico de Belo Horizonte? A Assembleia Legislativa de Minas Gerais está fiscalizando o cumprimento de leis?
3 Comments
Queremos que fiscalizem o o abastecimento hídrico de Belo Horizonte.NAO sedam as pressões das mineradorad
Muito obrigado pelas informações de extrema qualidade com alertas preocupantes. Magnífica reportagem pela clareza, conteúdo e até beleza! Parabéns a todos os envolvidos!
Rodrigo Rezende
Excelente matéria, deveria ser levado para Escolas de Ensino Fundamental.
Precisamis da pressão das nossas crianças e jovens para valorizarmos as nossas serras, montanhas e montes e impedir esses desastres ambientais patrocinado por adultos irresponsáveis.