Recicle suas ideias sobre o lixo

Nós do Lei.A indicamos oito projetos mineiros que transformam
o lixo em educação, renda e ganhos ambientais

A acumulação dos resíduos sólidos produzidos por toda a sociedade representa uma realidade de proporção mundial. Nesse contexto, a reciclagem se consolida cada vez mais como atividade estratégica em economias e sociedades ambiental e economicamente sustentáveis, por ser urgente e necessária, e também por apresentar potencial para geração ou complementação de renda. O Brasil, por exemplo, país que gera 5% de todo o lixo do mundo, poderia gerar recursos da ordem de R$ 120 bilhões por ano se reciclasse 100% dos resíduos passíveis de reaproveitamento.

Mas há quem veja no lixo um potencial transformador, seja envolvendo o tema em projetos educativos ou empreendendo por meio da reciclagem. 

Durante os últimos dias, nós do Lei.A estamos publicando uma série de conteúdos sobre a gestão dos resíduos sólidos em Minas Gerais, resgatando projetos de lei, informações sobre dados e iniciativas que estejam relacionadas ao tema. Para mostrar as possibilidades profissionais e educacionais que podem surgir do lixo, buscamos em Minas Gerais projetos para inspirar quem deseja agir por um mundo onde os resíduos não sejam mais um problema. Encontramos iniciativas com foco em grandes empresas, outras pensadas para as escolas e universidades, idealizadas por catadores e também para o cidadão comum, que deseja fazer uma melhor gestão dos resíduos que produz. Confira! 

 


Dias de aula num aterro sanitário 

 

O aterro sanitário de Contagem fica no bairro Perobas. Ele recebe todo o resíduo (lixo) da cidade. Junto dele está instalado um centro de referência de coleta seletiva. 

Mas não é só isso. Todas as quintas-feiras as suas portas são abertas para visitas de alunos das escolas municipais. Na cidade, 52 delas fazem coleta seletiva. Esse trabalho de educação ambiental é feito há seis meses como parte do projeto Reciclar Perobas.

O objetivo da visita ao aterro é mostrar, na prática, como se dá o resultado final da coleta seletiva, processo feito na maioria das escolas municipais. Elas acompanham toda a dinâmica da gestão de resíduos, conversam com os catadores e entendem como acontece todo o processo. Ou seja, o aprendizado não termina nas populares “lixeiras coloridas” da coleta seletiva.


Do carro velho (quase) tudo se aproveita

Você sabia que 95% de um carro em final de vida útil pode ser reciclado? Porém, no Brasil, apenas 1,5% da frota que sai de circulação é reaproveitada. Na tentativa de reverter esse abismo entre realidade e o mundo ideal, o CEFET/MG inaugurou em fevereiro de 2019 o primeiro centro tecnológico da América Latina destinado à reciclagem completa de automóveis, com tecnologia avançada e rastreabilidade de todos os materiais e peças recuperadas dos veículos. 

O projeto foi financiado pelo governo japonês, por meio da  Agência de Cooperação Internacional do Japão. Seu objetivo é produzir conhecimento, incentivando a implementação de outros estabelecimentos de reciclagem no Brasil. 

E como se dá esse processo de “reciclagem de carros”? Quando o veículo não tem mais utilidade, a primeira parte do processo é a despoluição, que consiste em tirar fluidos, óleos e combustível dele. A segunda etapa é fazer a separação para se ter mais chances de reciclar os fluidos. Depois, é possível chegar aos elementos de segurança do automóvel (baterias, cintos, entre outros). Nesse momento, é feito o desmonte de todos os sistemas. 

Quando esses elementos estiverem separados, é hora de prensar a carroceria, que é encaminhada para a indústria siderúrgica. As outras peças são inspecionadas e rotuladas para garantir a procedência quando houver a destinação para o comércio. A maioria pode ser reaproveitada. 

Assista ao vídeo de apresentação do projeto para conhecer melhor a iniciativa.

 


Lixo orgânico vira adubo e moeda social

Reciclar resíduos orgânicos para transformá-los em adubo rico em nutrientes, podendo tê-lo de volta à terra no cultivo de alimentos naturais, sem o uso de agrotóxicos e mantendo o ciclo da alimentação com total respeito à natureza. Esse é o fundamento básico do projeto encabeçado pelo coletivo Massalas, de Esmeraldas, localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte. 

Ele funciona assim: um levantamento da quantidade de resíduos de um determinado local é feito. Em seguida, o coletivo entrega baldes de vinte litros, com boa vedação, onde será acumulada a matéria orgânica para compostagem. No dia combinado, esses baldes são recolhidos e trocados por outros baldes higienizados, para dar continuidade ao ciclo. Os baldes cheios são direcionado para o Centro de Educação Ambiental do Vale dos Cristais, em Nova Lima, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), onde passam pelo processo de compostagem e se transformam em adubo orgânico. 

Por colaborar, as pessoas recebem uma quantia revertida em “moeda social”, que leva o nome do coletivo. Esses créditos podem ser gastos em feiras e serviços que também são parceiras do projeto. O objetivo é criar uma rede de iniciativas locais pela qual as trocas de produtos e serviços possam acontecer. 

 


Educação ambiental em família no dia-a-dia de uma escola

 

Usar ações simples do nosso cotidiano para envolver toda a comunidade de uma escola na conscientização sobre os problemas de gestão de resíduos do mundo. Essa é a lógica do projeto de gestão colaborativa de resíduos desenvolvido em parceria por educadoras do Instituto Ouro Verde, localizado em Nova Lima, e o Instituto Cresce, sediado na mesma cidade.  

Na escola, acontece a separação dos resíduos. O rejeito (lixo não reciclável) vai para o aterro de Sabará. Os recicláveis são recolhidos, uma vez por semana, por grupos de pais e mães dos 250 alunos, que fazem um rodízio mensal para executar essa tarefa. 

Já os resíduos orgânicos, volumosos pela quantidade de refeições semanais servidas na escola (cerca de mil), são levados para a área da compostagem, localizada na horta da própria escola, para depois serem usados como adubo. 

O projeto também faz uma medição do lixo semanal gerado pela comunidade escolar. O objetivo é dar aos alunos a oportunidade de se ter uma referência sobre a quantidade de lixo produzido e também da tipologia dos resíduos, para que entendam com maior facilidade sobre os processos de reciclagem e sobre a importância dessas ações para o mundo. Ao final, os organizadores do projeto se reúnem para avaliar se é necessário aprimorar algo, se a separação tem sido feita de forma adequada, se as crianças estão se envolvendo nas ações e se a comunicação está sendo eficiente.

 


Kombi ambulante em busca de recicláveis 

Quando Evaldo Cristiano Garcia saiu da Associação de Catadores da cidade de Lavras, na região Sul de Minas Gerais, ele decidiu montar um negócio próprio. Alugou uma kombi e um galpão e criou o projeto “E-sustentável”. Ele queria trabalhar com a gestão de resíduos de empresas, condomínios, casas e dar apoio para catadores individuais fortalecerem o trabalho, gerando mais renda. 

Já são vários clientes da kombi ambulante. A Universidade Federal de Lavras, por exemplo, utiliza o serviço para recolher recicláveis de aproximadamente quarenta repúblicas, além de empresas, escritórios e eventos ligados à instituição. 

Agora, junto aos meus parceiros, vamos começar também a coletar em um bairro aqui de Lavras que não conta com a coleta seletiva. Algumas pessoas se juntaram para pagar pelo meu trabalho, diante do reconhecimento da importância de uma coleta bem feita”, conta. 

Com quase um ano de atuação da microempresa, os resultados são consideráveis. Por exemplo, já recuperou oitenta toneladas de papel, o que segundo seu proprietário, contribuiu para que cerca 830 árvores não fossem cortadas. 

O projeto também oferece palestras e cursos voltados para quem quer ampliar o conhecimento sobre resíduos sólidos a partir da experiência de um catador, personagem central no processo de reciclagem de qualquer cidade do Brasil. No galpão montado para organizar todo o material recolhido separado para reciclagem, outros catadores da cidade recebem orientação para melhorar a eficiência de seus trabalhos.

 


Rede de catadores busca conquista de direitos 

A Redesol MG, sediada no centro de Belo Horizonte, é uma central de cooperativas de catadores de lixo fundada em 2002. Ela tem o papel de promover uma “troca de saberes” entre suas filiadas e, assim, promover mais ganhos financeiros e de qualidade de vida, como também modernizar o processo de coleta e reciclagem (produção, coleta, triagem, beneficiamento e transporte). 

A atuação é feita por meio de uma articulação em rede entre 240 catadores. Entre os grandes desafios da rede estão a conquista de políticas públicas voltadas para os catadores, infraestrutura para as cooperativas  e a implementação da coleta seletiva de qualidade em toda a cidade. 

Durante todos esses anos, a Redesol tem realizando seminários, participando de eventos com temáticas ambientais, organizando visitas em aterros e atuando nos movimentos relacionados à melhoria na gestão de resíduos na capital mineira.

 


Gerindo o lixo de grandes empresas 

Empresas ecologicamente corretas e produtos sustentáveis estão no centro das atenções do mercado, já que há consumidores cada vez mais atentos com a coerência entre os discursos ambientalmente responsáveis que as marcas ecoam e as práticas adotadas por elas. Tem muita gente topando pagar mais por um produto que, de fato, zela pelo meio ambiente. E esse zelo, claro, também passa pela reciclagem. 

Além de gerar dinheiro, os resíduos descartados por meio de uma boa gestão também podem simbolizar um significativo ponto positivo no marketing de grandes empresas. Pensando nesses dois potenciais, a ReciclaClub resolveu investir em tecnologia e estrutura para cuidar do lixo de estabelecimentos dispostos a firmar – de verdade –  um pacto de responsabilidade com a natureza e com a sociedade. 

Dessa forma, a empresa realiza a  gestão de resíduos em grandes quantidades, cuidando do processo desde a preparação do local de coleta até a documentação necessária para fiscalização. Os serviços incluem um diagnóstico com levantamento de dados a respeito da geração de resíduos e dos processos vigentes na empresa, implementação de um software de gestão de resíduos para otimizar a rotina de reciclagem, contratação de especialistas para descaracterizar, classificar e destinar os resíduos de forma apropriada e até gestão de contratos. Os estabelecimentos que contratam os planos recebem um relatório semestral com o detalhamento de todo o resíduo recolhido, que pode ser colocado à disposição dos próprios clientes, caso a empresa contratante julgue necessário. 

 


Equipamentos eletrônicos ganhando destino certo

Televisão, lâmpada, bateria, computador, geladeira e fogão tem uma durabilidade geralmente longa, mas quando chegam ao fim de suas vidas úteis passam a ocupar espaço, viram entulho e chegam a ser um problema para quem não quer mais os objetos. Também existem os lixos que precisam ter uma destinação adequada para evitar a contaminação do solo e da água, e até mesmo evitar doenças que podem afetar quem entrar em contato com um local onde esses materiais foram descartados incorretamente. É o caso das pilhas, baterias, lâmpadas e toners, por exemplo. 

Muita gente não sabe como encaminhar corretamente os lixos eletrônicos produzidos ao longo do tempo, já que, diferente do papel e do plástico, eles precisam de um cuidado especial por serem constituídos por muitos componentes, alguns deles tóxicos ou de alto teor de poluição. Para irem para a reciclagem, cada um deles precisa ser separado e receber sua destinação específica. 

Foi pensando na peculiaridade dessa demanda que a BH Recicla passou a oferecer serviços relacionados a gestão desse tipo de resíduo. Pelo site você pode agendar o recolhimento de todo tipo de equipamento de informática, eletroportáteis, eletrodomésticos, equipamentos de refrigeração, máquinas e equipamentos em geral. Depois de preencher o formulário, a solicitação de coleta é inserida em uma rota, e a equipe entra em contato para agendar uma data. Não existe exigência de um volume mínimo, mas é desejável que seja feita uma “junta” para que a coleta valha a pena.  Outros serviços oferecidos pela empresa são: compra de sucata, com emissão de certificados de destinação correta dos resíduos de acordo com a legislação; destinação adequada de resíduos tóxicos como pilhas, lâmpadas, toners, baterias e destruição de documentos e mídias de forma segura e sigilosa. Tanto para grandes empresas quanto para residências, o serviço é uma alternativa confiável para quem quer fazer o descarte correto e seguro. 

 

Você também conhece outra boa iniciativa?

1 – Mande para o nosso e-mail informações e links sobre ela: leia@leia.org.br

2 – Marque o Lei.A nas páginas e perfis dessas empresas, coletivos e projetos que você admira. 

3 – Poste nos comentários das nossas postagens no Facebook, Instagram e Twitter

 

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