No terceiro conteúdo da série “Escassez hídrica em Minas Gerais: passado no presente”, nós, do Lei.A, fomos buscar algumas ações onde cidadãos se organizaram em suas próprias comunidades para construírem alternativas possíveis para driblar a crise da água.
Jaime dos Santos nem tinha nascido quando, há cerca de cinquenta anos, no Norte de Minas, os projetos impulsionados pelo Estado na ditadura militar começaram a expropriar as terras da região que ele mora, em Capoeirão, comunidade de Januária. Isso aconteceu devido à criação de novas fronteiras agrícolas em áreas ocupadas pelo Cerrado, e era o início de uma história de devastação que segue acontecendo até hoje. Mas as lembranças da terra farta de água é viva na memória de quem cresceu aprendendo a nadar nos rios e veredas da vizinhança. “Hoje com 42 anos, me lembro da sensação de liberdade da minha infância. As grandes empresas ainda estavam chegando para explorar a região e a gente pensou que isso significava oportunidade de emprego. E por um tempo foi mesmo. Mas o que não tínhamos ideia era de como isso colaboraria ainda mais com a destruição do que temos de mais precioso: as veredas e todo o ecossistema ao redor”.
O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e da América do Sul. Por aqui, ele ocupa uma área de dois milhões de km2, ou seja, 24% do território nacional. São 13 estados cobertos por esse tipo de vegetação. Considerado o berço das águas, ele abriga ainda três aquíferos que abastecem boa parte do país: Guarani, Urucuia e Bambuí. De 1970 até 2018, a perda desse bioma foi de 50%– mais que o dobro da Amazônia, que perdeu 20%, segundo um levantamento feito pela ONG WWF.
Neste terceiro conteúdo da série “Escassez hídrica em Minas Gerais: passado no presente”, nós, do Lei.A, selecionamos algumas iniciativas da sociedade civil, como a da comunidade de Jairo, que precisou se organizar para proteger as águas da região. São histórias de pessoas que entenderam a importância da mobilização, da articulação com o poder público e do saber popular para encontrar alternativas de resiliência hídrica, buscando saídas para as cíclicas crises de escassez de água no país.
#conheça
Vereda viva é liberdade!

Capoeirão, onde Jaime vive, é uma das centenas de comunidades veredeiras do Norte de Minas. Elas têm como principais atividades o cultivo de alimentos, a solta do gado e a extração dos frutos do Cerrado. A relação de interdependência com as veredas é fator principal da identidade das pessoas com o território. Cada comunidade é reconhecida e nomeada pelo rio ou pela vereda que pertence.
Mas, o que são as veredas?

De acordo com a bióloga botânica especialista em cerrado Fernanda Grossi, as veredas são importantes reguladores do equilíbrio dos cursos d’água do Cerrado. “Elas desempenham um papel fundamental no equilíbrio hidrológico dos cursos d’água, porque atuam como um sistema represador. São fontes perenes de água em períodos de estiagem, e por isso existem tantas comunidades que vivem ao redor”. A bióloga ainda explica que as veredas ficam em lugares levemente rebaixados, com solo arenoso, como se fosse uma esponja, seguida de uma camada impermeável rica em matéria orgânica. ”Essa área encharca quando chove e libera água lentamente nos períodos secos”, pontua.

Segundo Fernanda, as veredas ficam próximas a nascentes e borda de matas de galeria. “Essas áreas são fundamentais na manutenção da fauna do Cerrado, porque servem de abrigo para animais e reprodução da fauna terrestre e aquática. As veredas são únicas, não existe nada parecido na natureza”, complementa. De acordo com a especialista, essas áreas estão correndo sério risco devido ao desmatamento, às queimadas e ao agronegócio. “Mais de 70% das veredas de Minas estão com risco de desaparecerem se essas atividades continuarem de forma desregulada”.
Veredas no Parque do Peruaçu. Foto: WWF
Foi como forma de proteger seus modos de vida e o que ainda restava de um Cerrado devastado que as comunidades que tiram dele seu sustento precisaram se organizar para agir para proteger as veredas. Assim foi se consolidando o movimento dos veredeiros e veredeiras no Norte de Minas, por meio de iniciativas de povos tradicionais em busca da preservação dessa cultura, das águas produtoras de vida e de tudo que brota na terra.
Cercado de água, Jaime cresceu assistindo esses ambientes secando devido a um intenso processo de degradação ambiental. Aos poucos, a seca na região foi se agravando devido ao avanço das monoculturas, do desmatamento desenfreado, da produção de carvão, das queimadas intensivas, e do assoreamento e aterramento dos rios.
A necessidade de um contraponto ao que acontecia provocou o povo nativo a se organizar de forma consolidada. Em 2019, foi criada a Associação Central das Comunidades Veredeiras (ACEVER), firmando a existência de um movimento de organização política da sociedade civil em busca dos reconhecimentos não só de seus direitos, mas também do território, além da proteção e recuperação das veredas e das águas.
Como presidente da associação, Jaime explica como o grupo cresceu nos últimos anos, passando de sete comunidades ativas para 27. “Já conseguimos uma cadeira no Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e na Comissão Estadual de Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais. E também já organizamos dois grandes encontros de Comunidades Tradicionais Veredeiras do Norte de Minas para pensarmos de forma conjunta as ações de proteção às nossas veredas”, explica. De acordo com Jaime, essas conquistas são relevantes pois fortalecem as ações conjuntas das diversas comunidades veredeiras e dão a elas a chance de partilhar saberes, discutirem políticas públicas possíveis, além de pensarem de forma estratégica ações que protejam as veredas e, consequentemente, as águas do Cerrado.
“Nossas comunidades existem porque a água existe. Por aqui, onde se avista uma vereda, se avista o povo, e por isso é preciso valorizar o cerrado e a abundância que ele nos oferece”- JAIME SANTOS, Veredeiro do Capoeirão.
Como forma de proteger as nascentes, a associação também busca disseminar a técnica chamada de “barraginhas”. O objetivo é proteger o solo da erosão causada pelas enxurradas e também para alimentar o lençol freático. Essa técnica, criada pelo engenheiro agrônomo Luciano Cordoval, inspirou até um o PL 3715/2020, que busca criar o Programa Barraginhas e outras ações para recuperação e perenização hídrica, na Política Nacional de Recursos Hídricos. Confira mais detalhes aqui.

Quer conhecer mais sobre a luta dos veredeiros e veredeiras de Minas Gerais? Assista ao
documentário “Vereda Viva é Liberdade”:
Romaria do Areião, ocupando a terra para proteger as águas

No extremo norte de Minas Gerais, mais especificamente entre os municípios de Rio Pardo de Minas, Montezuma e Vargem Grande do Rio Pardo, comunidades conhecidas como “Geraizeiros” têm muito o que contar sobre fé, coragem e resistência. Lá se vão trinta anos de luta dessas pessoas contra o avanço de monoculturas de eucalipto e, agora, contra a mineração, atividades que ameaçam o Cerrado e vão minando aos poucos os cursos de água da região.

Vivendo da terra em um território que o Estado considerava como devoluto há várias gerações, essas famílias testemunharam a invasão de empresas de monocultura de eucalipto e o comprometimento das áreas dedicadas ao extrativismo, afetando a disponibilidade de água da região. Se tratando de comunidades culturalmente muito católicas, a reflexão crítica sobre a situação era levada aos cultos, e foram nestes momentos que as pessoas começaram a se organizar para dar um importante passo na proteção da região: a mobilização por uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável , denominada Reserva Extrativista (Resex).

Depois de muita luta, audiências, ofícios, documentos, reuniões e orações, os Geraizeros resolveram ocupar o território até então de posse da empresa da monocultura de eucalipto e começar uma vigília que dura até os dias de hoje. A primeira grande conquista foi a negativa para um novo contrato com a empresa. A segunda e mais importante delas veio em 2014, com a conquista da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes Geraizeiras. Esta Unidade de Conservação protege as áreas de nascentes e de uso coletivo de aproximadamente 25 comunidades geraizeiras no Norte de Minas abrangendo os municípios de Montezuma, Vargem Grande e Rio Pardo de Minas.
Desde então, de tempos em tempos, as comunidades realizam a Romaria do Areião, uma peregrinação religiosa pela área da agora institucionalizada Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes Geraizeiras. A romaria serve como forma de reafirmar seu pertencimento ao território e seus vínculos com o Cerrado. É também uma manifestação política, em que são colocadas as pautas da comunidade e o fortalecimento de sua luta, que segue acontecendo firmemente.
“Se caso entrar pessoa aqui dentro querendo destruir isso daqui pra transformar as nossas plantas em outras plantas, eu acho que nós, das comunidades vizinhas e todas as organizações de bem, a gente há de se transformar em um verdadeiro exército. Para combater essas classes de gente que só quer destruir para tirar proveito enquanto o povo trabalha para um bem comum. Não somos só nós que precisamos desse lugar vivo. É o mundo todo”.
Seu Arcílio, morador de Vereda Funda, em Rio Pardo de Minas, para o documentário Romaria do Areião.
Quer conhecer mais sobre a história da Romaria do Areião? Assista ao documentário realizado pelo Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas em 2015, pouco antes da conquista da comunidade pela RDS Nascentes Geraizeiras.
Conservadores de água fazem brotar esperança

Em Extrema, cidade emoldurada pela Serra da Mantiqueira no sul de Minas Gerais, a área rural guarda uma grande quantidade de nascentes com diversos cursos d´água. Ali, desde 2005, uma cena que parecia improvável acontece mensalmente: diversos agricultores no caixa da prefeitura recebem dinheiro pelo trabalho de conservação de suas terras. Após vários anos de estudos e preparação, Extrema colocou seu nome na vanguarda da gestão ambiental ao criar o primeiro projeto de Pagamento por Serviço Ambiental do Brasil, o projeto Conservador das Águas.
O programa acontece por meio de uma lei municipal e é conduzido por instituições que, em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA), viabilizam recursos técnicos e financeiros para a revitalização ambiental de bacias hidrográficas de importância estratégica para a região em que estão inseridas. O projeto parte do princípio de que os produtores rurais têm papel fundamental na economia do país e na conservação das águas, da fauna e da flora. Com os recursos fornecidos mensalmente a esses produtores e com o auxílio técnico oferecido pelo projeto, é possível que eles invistam em cuidados essenciais para a preservação das águas.

A remuneração, além de pagar o tempo gasto com as atividades, permite a construção de terraços, barraginhas, readequação de estradas rurais, recuperação e proteção de nascentes, reflorestamento e manutenção de reservas florestais. Premiado nacional e internacionalmente, o Conservador das Águas foi o primeiro projeto a ser implementado utilizando a metodologia do Programa Produtor de Água.
Os conservadores de água já foram tema de conteúdo do Le.A. Clique aqui para ver mais!
No vídeo feito pela Agencia Nacional das Águas, é possível entender o programa com detalhes:
Essa iniciativa continua em operação nos dias atuais expandindo suas ações, inclusive, para outros municípios de toda a Serra da Mantiqueira. Se quiser conhecer mais detalhes, é só acessar o site do programa.
Colher água, plantar vida!

O programa “Um Milhão de Cisternas”, também conhecido como P1MC, chegou na casa da família de Cleyton Amorim há mais de uma década. Na época, ele com 18 anos não só assistiu a construção da estrutura capaz de captar água da chuva como participou das obras, aprendendo as técnicas que hoje são cruciais para a profissão de cisterneiro. “Quando a ASA chegou na casa da minha família, trouxa a água pra perto e também me trouxe uma oportunidade profissional”, conta.
Cleyton hoje é cisterneiro e mobilizador social. Foto: Pedro Antuña.
A cisterna é uma tecnologia social de baixo custo e consiste em um reservatório para fazer a captação e o armazenamento da água da chuva. É um equipamento economicamente sustentável e seguro utilizado para o reaproveitamento da água no uso doméstico.

Fonte: Projeto Manuelzão
O programa Um Milhão de Cisternas é uma iniciativa da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), organização fundada em 2000, e surgiu para atender a uma necessidade básica da população que vive no campo: água de beber. As ações para a construção das estruturas, de acordo com o coordenador executivo da ASA Brasil e da ASA Minas, Valmir Macedo contam com o apoio de mais de três mil organizações, como as do movimento sindical e as não governamentais, por exemplo, e as cooperativas e associações dos municípios que compõem a região semiárida do Brasil.

O P1MC teve origem das experiências locais do semiárido brasileiro e acabou apontando para a construção de uma política pública efetiva, que garante o direito das populações rurais de ter água de qualidade para o consumo. Segundo Valmir, após três anos atuando por meio de parcerias e articulações com outras centenas de organizações, a ASA apresentou para o Governo Federal a proposta de uma atuação conjunta, passando a ter recursos previstos no Orçamento Geral da União.
Dessa forma, foi possível uma ação praticamente contínua desde então, fazendo o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) reconhecer e legitimar as cisternas do P1MC como elemento de segurança hídrica e alimentar. “Até 2016, nosso principal parceiro era o Governo Federal. Isso vem mudando muito e hoje em dia essa política pública praticamente acabou. Tentamos, hoje, juntar fundos por meio da campanha Tenho Sede”.
Gráfico mostra investimento do Governo Federal no programa desde 2003 Fonte: Boletim informativo Ministério da Cidadania nº28, novembro de 2019. Programa Cisternas.
Cleyton relembra como a cisterna mudou a dinâmica de toda família. “Antes a gente tinha que andar quilômetros por dia para buscar água onde tivesse. Depois que conquistamos a cisterna, ganhamos tempo para brincar, para estar em família, para cuidar da saúde. Minha mãe ficou menos sobrecarregada com os trabalhos domésticos e também com a preocupação com a falta de água. Era de tirar o sono. Aquilo foi tão forte pra mim que fiz deste meu ofício”. Hoje em dia, além de cisterneiro, o pedreiro é também mobilizador social.
O projeto conta com a participação e colaboração dos moradores de cada um dos municípios envolvidos no programa, assim como aconteceu com Clayton, possibilitando que a experiência traga também alternativas de fonte de renda para essas pessoas. A ideia é unir forças para traçar um futuro com mais dignidade e qualidade de vida para as famílias agricultoras que sofrem com as estiagens no Brasil, promovendo e assegurando o acesso à água potável.
Segundo o coordenador Valmir Macedo, o projeto conta com a premissa do estoque, aproveitando a época das chuvas para guardar o máximo de água que for possível para ser usado em períodos de estiagem. Hoje em dia, a ASA já conta com cerca de 1,2 milhões de cisternas de 16 mil litros construídas em casas da zona rural, além de 7 mil cisternas de 50 mil litros em escolas também nestes territórios.
Cisternas são construídas junto à comunidade, com a intenção de empoderar pessoas com a tecnologia social de baixo custo. Fonte: ASA.
As ações da ASA foram além do semiárido mineiro e inspiraram outra iniciativa baseada na construção de cisternas para comunidades vulneráveis: o Cultivando Águas, do projeto Manuelzão. O programa começou em agosto deste ano e tem como objetivo construir sete cisternas para armazenamento de água das chuvas, de 16 mil ou 52 mil litros, em comunidades rurais e urbanas periféricas das bacias do Rio das Velhas e do Rio Paraopeba até dezembro.
Aprendendo com o semiárido a cultivar água no sudeste

As ações da ASA foram além do semiárido mineiro e inspiraram outra iniciativa baseada na construção de cisternas para comunidades vulneráveis: o Cultivando Águas, do projeto Manuelzão. O programa começou em agosto deste ano e tem como objetivo construir sete cisternas para armazenamento de água das chuvas, de 16 mil ou 52 mil litros, em comunidades rurais e urbanas periféricas das bacias do Rio das Velhas e do Rio Paraopeba até dezembro.
Os lugares foram escolhidos devido a vulnerabilidade hídrica. Cinco ficam no município de Lassance, localizado na região norte de Minas Gerais: o Quilombo Tira Barro e as comunidades Boqueirão, Brejo, Santa Maria e Morada Nova. Já as outras estão localizadas na capital mineira e em sua região metropolitana, a ocupação Vitória, em Santa Luzia, e o bairro Ribeiro de Abreu, na região nordeste de Belo Horizonte.
Seguindo a mesma metodologia e ideia da ASA de multiplicação da tecnologia social, o projeto busca envolver os moradores em seu processo. Para isso, são realizadas uma série de oficinas em cada lugar selecionado para receber o Cultivando Águas. No primeiro encontro, há um debate sobre educação ambiental para discutir coletivamente o direito à água. A segunda etapa é dedicada à construção das cisternas, com uma previsão de cerca de cinco dias de duração. Essa parte é sempre comandada por uma equipe técnica.
Já a entrega da estrutura, no último dia, acontece junto a uma oficina para ensinar sobre os principais cuidados para se manter a cisterna funcionando por muitos anos. “Uma das grandes vantagens da cisterna é seu custo-benefício. Para uma estrutura de 16 mil litros que hoje em dia custa entre R$8 e R$9 mil nos dias de hoje, temos uma previsão de durabilidade de no mínimo dez anos contando com uma manutenção muito simples”, explica Márcia Marques, colaboradora do projeto.
No bairro Ribeiro de Abreu, a obra da estrutura aconteceu no Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (Comupra), um espaço aberto aos moradores onde diversas ações de mobilização comunitária são desenvolvidos, como o movimento Deixem o Onça Beber Água Limpa, que busca a revitalização do Ribeirão do Onça, além de uma horta comunitária.“ A intenção é ver a cisterna sendo útil em um lugar comum, onde os moradores tenham oportunidade de participar da feitura, tendo assim o acesso a uma nova possibilidade para suas próprias casas e para suas rendas, e também possam ser beneficiados de alguma forma enquanto comunidade”, explica Márcia. No caso do Comupra, a cisterna será usada para abastecer uma horta comum.
Comunidade do bairro Ribeiro de Abreu no início da construção das cisternas. Foto: Pedro Antuña.
Na Ocupação Vitória, segundo lugar a receber o projeto, quem comandou as obras foi o pedreiro conhecido como De Menor, morador da comunidade que teve a chance de aprender a técnica durante a construção da estrutura no Comupra. “Participei das obras do Comupra comandadas por um cisterneiro que veio de Januária para nos ensinar a técnica. Depois foi a hora de replicar na minha comunidade, onde a construímos em um lugar de acesso de todos os moradores e onde realizamos o projeto Agroecologia na Periferia. Todo mundo será beneficiado”, conta.
Os bons exemplos que vêm das águas de Itabirito

Na área rural de Itabirito, região do distrito de Acuruí, um cidadão decidiu contribuir para a proteção das águas e do meio ambiente. Ele passou a aplicar em sua propriedade a tecnologia das barraginhas, depois de pesquisar a técnica e perceber como ela poderia contribuir em seu território. “Eu vi a barraginha como alternativa para contenção de água de chuva para minimizar ações das enchentes, alimentar animais silvestres e domésticos nas partes altas, contenção dos sólidos, melhorando o assoreamento”.

“Seu” Odilon, como é carinhosamente chamado pelos companheiros, é membro do Subcomitê da Bacia Hidrográfica do Rio Itabirito. Acabou por tornar-se referência em Itabirito na “produção” e proteção das águas. Apesar da técnica de construção das barraginhas ser simples, ele destaca que uma parceria entre os proprietários de imóveis rurais e a Prefeitura de Itabirito pode ser fundamental para a manutenção das estruturas.
Para isso, o município disponibilizaria máquinas para a abertura (escavação da bacia) e limpeza (retirada do material orgânico acumulado) das barraginhas. Ele ainda dá o recado para aumentar o volume e a qualidade das águas do Rio das Velhas que abastecem a Região Metropolitana de Belo Horizonte: “No Alto Velhas é isso. Nós precisamos segurar toda a água de chuva possível, deixar descer apenas as águas que forem infiltradas e saírem através das minas”.
As ações do “Seu” Odilon são exemplo para todos aqueles que querem e podem proteger as águas da sua região, e ainda para políticas públicas de pagamento pelos serviços ambientais para quem melhora a qualidade e quantidade das águas que servem para o abastecimento público.
Monumento pelas águas

Itabirito também chama a atenção por outras iniciativas de proteção às águas, como a mobilização popular que aconteceu em 2019, quando uma mineradora iniciou o licenciamento ambiental para a extração de minério de ferro que poderia impactar nas águas da região.
A comunidade se organizou, uniu-se a outras entidades de defesa do meio ambiente, comunicou à imprensa e pressionou os poderes Executivo e Legislativo municipais para que não fosse permitida a implantação do empreendimento em Ribeirão do Eixo, subdistrito de Itabirito que se destaca pela quantidade de nascentes e também pela mobilização social em defesa da água.
O resultado foi positivo, sendo criado o Monumento Natural Municipal Serra das Águas, uma unidade de conservação do grupo de proteção integral que tem uma área total de 320,7 hectares. Seu objetivo básico é preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica, além de formar um corredor ecológico de unidades de conservação, elevando o potencial de proteção dos recursos naturais da região.
Estas e outras histórias inspiradoras, como o Programa de Águas Integradas e a atuação do Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Ribeirão do Eixo, estão em um ebook feito pelo Lei.a sobre as Águas de Itabirito. Vale a pena conferir!
Recuperar para regenerar

Em Jacutinga, município da microrregião de Poços de Caldas, no Sul de Minas Gerais, o projeto Proveráguas Jacutinga, realizado pela Agência Regional de Proteção Ambiental da Bacia do Rio Grande (Arpa – Rio Grande) também tem muito a ensinar. A Arpa é uma Associação Civil que atua como Organização Não Governamental nos municípios e distritos compreendidos pela Bacia do Rio Grande.
Composta por advogados, geógrafos, engenheiros, biólogos, professores, ambientalistas, universitários, técnicos e colaboradores, o grupo tem como objetivo defender, preservar e conservar o meio ambiente. Além disso, realiza estudos e pesquisas, desenvolve tecnologias alternativas e produz e divulga informações e conhecimentos técnicos na área da sustentabilidade.
Por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta conduzido para a Arpa pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), foi possível a realização do projeto Proveráguas Jacutinga. O projeto busca promover a restauração de Áreas de Preservação Permanente (APPs), principalmente as ciliares e das áreas de recarga, do Rio Mogi-Guaçu, no intuito de recuperar e aumentar a potencialidade de produção hídrica. Isso acontece por meio da Construção de bacias de contenção e reconstituição de componentes vegetais (reflorestamento). O projeto possibilitou a recuperação de 31 APPs, das 48 que foram identificadas como prioritárias para aquela microbacia, representando 28 hectares cercados e em recuperação.
#monitore
Gestão das águas

A discussão sobre Gestão de Recursos Hídricos ou da Água ganhou força nos setores público e privado nos últimos anos. No primeiro conteúdo da série “Escassez Hídrica: passado no presente”, resgatamos a situação de cada uma das bacias hidrográficas de Minas Gerais.
A análise dos impactos ambientais por bacia hidrográfica permite uma visão ampla e integral dos problemas e possibilita a elaboração de estratégias e ações mais eficazes em defesa do meio ambiente natural e artificial.
Os vários eventos de escassez registrados em diversas regiões do Brasil são indicadores de como a má gestão, os impactos ambientais e as mudanças climáticas podem afetar a disponibilidade de água. Assim, é necessário conhecer também as leis que regulam, controlam e protegem os recursos hídricos.
Em Minas Gerais, a principal legislação sobre os recursos hídricos diz respeito à Política Estadual de Recursos Hídricos (Lei 13199/99 ). Alinhado com a política nacional, a legislação mineira prevê o gerenciamento dos recursos hídricos de curto, médio e longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos, devendo ser acompanhados de revisões periódicas.
Nós, do Lei.a, disponibilizamos em nossa plataforma conteúdos que te ajudam a entender a lei atual e acompanhar projetos que correm na Assembleia Legislativa de Minas Gerais propondo mudanças. São mais de 50 propostas monitoradas. Neste espaço você também pode pesquisar em um mapa, de acordo com o município do seu interesse, dados georreferenciados sobre os recursos hídricos de determinada localidade.

#aja
1- USE A COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA DE MUDANÇA. Se você faz parte do movimento ambiental, compartilhe a série especial do Lei.A, converse e mais do que isso: escute. Tente entender uma forma simples, didática e direta de introduzir o tema junto à família, aos colegas de trabalho ou ao ambiente escolar de seus filhos. Fale a língua do povo! Temos um guia de comunicação ambiental e mobilização popular que pode te ajudar.
2- FORTALEÇA OS PROJETOS QUE FAZEM ACONTECER A MUDANÇA. Se você se inspirou nas iniciativas citadas neste conteúdo, busque saber mais sobre eles, acompanhe nas redes sociais, divulgue na sua rede de contatos.
3- MONITORE O USO DAS ÁGUAS PELOS GRANDES EMPREENDIMENTOS. Peça sempre explicações sobre a quantidade e a forma de uso das águas por parte das grandes indústrias. Além disso, verifique e monitore o cumprimento das condicionantes das outorgas das mineradoras que autorizam os rebaixamentos de lençol freático. Os números dos processos foram citados nesse material e o acesso aos documentos se dá através deste link: http://www.siam.mg.gov.br/siam/processo/index.jsp
4- ACOMPANHE O TRABALHO DOS COMITÊS E SUBCOMITÊS DE BACIA DA SUA REGIÃO. Eles promovem em diferentes territórios a discussão e tomam decisões sobre a governança das águas. Eles são órgãos consultivos, formados por membros titulares e suplentes eleitos, com atuação em cada região hidrográfica.