Semana Lixo Zero pretende movimentar ações de conscientização sobre a complexidade
da gestão de resíduos em busca de soluções
Nós do Lei.A fomos conversar com o Instituto Lixo Zero e entender mais
sobre esse novo conceito
Pela definição do próprio dicionário, “lixo” são os resíduos vindos de atividades domésticas, industriais e comerciais que não tem mais utilidade, e são jogados fora. Esteja onde estiver, o ser humano produz lixo, seja em casa, nas escolas, nos hospitais, no campo, cultivando alimentos, criando animais, industrializando produtos ou trabalhando em um escritório.
Nos últimos séculos, com o salto de desenvolvimento de novas tecnologias e com a adoção de um modelo econômico baseado na produção e no consumo em grande escala, a produção de lixo no mundo também cresceu significativamente. Ou seja, quanto mais se produz e consome, mais lixo é gerado.
O Brasil é um dos campeões na geração de lixo. Por aqui, são cerca de 219 toneladas por dia, o que corresponde a 5% do total mundial.
Essa constatação fica ainda pior quando se analisa o comportamento do nosso país naquilo que poderia diminuir a nossa contribuição para um planeta mais sujo e poluído: a reciclagem de resíduos sólidos. De todo o volume de lixo passível de reciclagem, no Brasil, apenas 3% passa por esse processo.
Para onde vai todo esse lixo?
Essa geração de resíduos sólidos (lixo) num volume extremamente superior ao percentual reciclado provoca também um grave problema no Brasil e no mundo: as áreas para disposição de resíduos tornaram-se escassas, fazendo com que a sujeira acumulada represente um fator grave nos índices de poluição dos solos, águas e ar. Além disso, a má disposição influencia na degradação das condições de saúde da população.
Em 2010, no Brasil, parecia ter surgido uma luz no fim do túnel de resíduos. Foi aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Basicamente, ela tratava de criar regras para a produção de menos lixo, mais reciclagem do mesmo e o fim de disposições inadequadas, como os lixões. Nove anos depois, quase nada saiu do papel.
Clique aqui e conheça a lei da Politica Nacional de Resíduos Sólidos
Durante essa semana especial dedicada à temática dos “resíduos sólidos”, nós do Lei.A falaremos mais sobre essa lei e outras propostas de novas legislações para esse tema em Minas Gerais.
Lixo Zero
Na contramão disso tudo, há quem esteja tentando fazer diferente, apostando em um
modo de vida onde exista consciência e responsabilidade sobre o lixo gerado em cada situação do dia-a-dia. Essa foi a bandeira motivacional para a criação, também em 2010, do Instituto Lixo Zero. Trata-se de uma organização da sociedade civil, autônoma, sem fins lucrativos, que tem o objetivo de disseminar o conceito do “lixo zero” pelo Brasil afora. Atualmente, cem municípios do Brasil contam com embaixadores do Instituto Lixo Zero, que realizam atividades de forma voluntária ao longo do ano para fortalecer o conceito. Em Minas Gerais, são 16 cidades.
Dentro da nossa semana especial dedicada à temática dos “resíduos sólidos”, nós do Lei.A conversamos com a embaixadora do Instituto Lixo Zero em Belo Horizonte, Clarissa Cruz. Entre os assuntos debatidos e esclarecidos, ela falou sobre a Semana Lixo Zero, marcada para acontecer entre os dias 18 e 27 de outubro deste ano. Confira como foi o nosso bate-papo com a Clarissa.
O que é o conceito Lixo Zero?
Esse conceito consiste em evitar a geração de lixo e responsabilizar-se pelo encaminhamento correto dos resíduos que a gente produz. Ele se baseia na premissa de que 50% dos resíduos são orgânicos e possíveis de irem para a compostagem, 40% são recicláveis (com a ajuda de tecnologias no processo), e apenas 10% são rejeitos. Esse último, se for para o aterro e passar pelo tratamento correto, será reduzido a quase nada. O propósito do conceito Lixo Zero é trazer essas informações para que as pessoas possam tomar consciência de suas responsabilidades, e entender tudo que isso engloba. Lixo Zero é um conceito de vida, urbano e rural, no qual o indivíduo e consequentemente todas as organizações das quais ele faz parte, passam a refletir e se tornam conscientes dos caminhos e finalidades de seus resíduos antes de descartá-los.
O que o Instituto oferece para quem quer colocar em prática o conceito Lixo Zero?
O instituto oferece cursos capacitantes, com conteúdos informativos voltados à sociedade e às empresas, trazendo assuntos pertinentes para quem está interessado em colocar em prática a redução completa de lixo no dia-a-dia. Também realizamos dois eventos anuais. Em um deles, reunimos casos de sucesso em abordagens relacionadas à gestão de resíduos que interessem tanto ao cidadãos quanto a empresas e ao poder público. São temas como redução, reuso, reciclagem, compostagem, tecnologia, engajamento e design.
Como funciona a Semana Lixo Zero?
Nossa proposta é que as pessoas saiam de suas zonas de conforto. Para isso, convidamos todos e todas a pensarem o que pode ser feito hoje e agora para mudar a realidade dos resíduos no mundo. Isso pode provocar uma série de conversas e propostas para que esse assunto se movimente. Nós, do Instituto, damos o apoio necessário para que esse movimento aconteça, mas a ideia é que o ponto de partida seja de cada um. Por exemplo: uma professora pode propor uma atividade dentro da sala de aula para fazer a turma a refletir sobre o tema; uma empresa pode propor uma mudança de hábitos mais radical durante uma semana; uma turma universitária pode sugerir o debate com a participação de especialistas no tema, ou um workshop. Para facilitar essas ideias, nós fazemos um trabalho de divulgação e um cadastramento de pessoas e empresas que gostariam de desenvolver essas atividades voltadas para o conceito Lixo Zero. A partir daí, vamos dialogar para fazer tudo acontecer, ajudando na logística, levando nossas palestras sobre o conceito “Lixo Zero”, dando consultoria etc. Nosso papel é fortalecer as ações que as pessoas sugerem.
Qual o público-alvo do projeto Lixo Zero?
Todos nós somos público alvo: empresas, hospitais, escolas, indústrias, escritórios, botecos, as ruas da cidade, associações de bairro, condomínio, vizinhos, amigos de infância… tudo. Não adianta trabalhar com políticas públicas se a população não tem consciência da complexidade do problema do lixo no mundo. Não adianta eu, como consumidora, mandar um resíduo para reciclagem se eu não higienizei de forma minimamente correta para que os catadores façam a triagem. Não adianta eu, como moradora da cidade, não ter consciência sobre o trabalho de um catador. Muito do que podemos nos gabar do pouquíssimo que reciclamos no Brasil, nós devemos aos catadores e catadoras desse país. Entender tudo isso é um papel de todos nós.
Quais os principais desafios do Instituto Lixo Zero?
Desenvolver uma comunicação comum para todos os municípios. Reconhecemos a importância dela para que o projeto ganhe força. Além disso, muitas vezes faltam recursos – em alguns municípios mais que em outros. Isso é importante para que as pessoas entendam o Instituto como um movimento nacional sustentado por trabalhos voluntários, que tenta se expandir com poucos recursos.
E as principais conquistas?
É uma conquista muito grande estarmos presentes em mais de cem municípios brasileiros. Também posso dizer que é uma grande vitória o fato de já termos conseguido instituir a semana em diversas cidades do país, sendo organizadas pela própria prefeitura. Cidades como Curitiba, São José dos Campos, Recife, Niterói e Rio de Janeiro já contam com a Lei da Semana Lixo Zero. Quando levamos para a esfera pública, significa que a cidade já se prepara para essa semana, pensa em atividades, incentiva a participação de outras entidades. Isso é super importante. Em Belo Horizonte, estamos nos movimentando para conseguirmos isso neste ano, batendo na porta da prefeitura, da câmara de vereadores, para discutirmos a ideia. É importante lembrar que uma cidade que têm a Semana Lixo Zero como lei não significa que se trate de uma cidade limpa. A semana é justamente para trabalhar essa consciência. Então, fazer parte do calendário oficial significa que o município já está comprometido a pensar no assunto. As soluções vêm com o tempo.
Participe
O formulário de inscrição para a Semana Lixo Zero está disponível aqui. Quem quiser participar e tiver alguma ideia para sugerir, pode entrar em contato pelo e-mail lixozerobh@gmail.com, ou pelas páginas do Instagram e Facebook para que a equipe compartilhe algumas ideias de atuação.