“Minas são muitas”: a diversidade dos patrimônios culturais mineiros

A frase de Guimarães Rosa contida no livro Ave, Palavra representa a grandiosidade e diversidade de Minas Gerais. Mais do que mais uma pérola da criação literária tão própria ao escritor, admirada mundialmente, ela também traz consigo outra faceta do estado: a de ser a unidade da federação com mais bens e patrimônios culturais protegidos por lei. E foi passeando pela biografia de Rosa, que nós, do Lei.A, decidimos trazer esse conteúdo sobre os Patrimônios Culturais de Minas Gerais.


Expoente da literatura mineira e nacional, Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo. Estudou e se formou em São João Del Rei e Belo Horizonte. Foi exercer a profissão de médico em diversas cidades do interior mineiro, como Itaúna e Barbacena. Ávido pesquisador de línguas e costumes, ele observou a diversidade de Minas Gerais, celebrando-a em centenas de contos, ensaios e livros, especialmente naquele mais famoso, O Grande Sertão: Veredas

Essa diversidade de Minas Gerais, imortalizada na literatura por seu maior trovador, é percebida quando se analisa também os Patrimônios Culturais presentes em suas cidades. Por exemplo, reconhecida pela Gruta de Maquiné e pela casa de Guimarães Rosa, a cidade de Cordisburgo possui uma forte tradição em Folia de Reis. Segundo levantamentos do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), a cidade possui oito Folias de Reis registradas em seu município. Além delas, Cordisburgo também é referência na prática de “fazedor de viola”, sendo um importante expoente da Saberes, Linguagens e expressões musicais da viola em Minas Gerais.


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Já, Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, onde Guimarães Rosa estudou e se formou, é reconhecida, principalmente, por seu patrimônio cultural ligado aos bens imóveis, tais como a Praça da Liberdade, o Cine Pathé, o Cineteatro Brasil, a Igreja de São José, a Catedral de Boa Viagem, o Conjunto Paisagístico da Pampulha, dentre outros. Porém, mesmo pouco conhecidos, os patrimônios imateriais também estão presentes em Belo Horizonte, como as Folias de Reis e os violeiros, localizados em bairros de ocupação histórica na capital.

Itaúna, na região Centro-Oeste de Minas Gerais, cidade em que Guimarães Rosa exerceu a profissão de médico, tem seus patrimônios culturais ligados à Rede Ferroviária Nacional, às Folias de Reis, aos violeiros locais e aos bens imóveis do Morro do Rosário. 

Rosa também viveu boa parte de sua vida percorrendo a região Norte de Minas Gerais. As cidades, lugarejos e rios de lá estão presentes em inúmeras de suas obras. Em O Grande Sertão Veredas, por exemplo, ele retrata o modo de vida do sertanejo ao longo do Rio São Francisco. E neste contexto, existem diversos patrimônios culturais que exemplificam a diversidade mineira. Com destaque para a comunidade de Barra do Guaicuí, em Várzea da Palma, a Antiga Escola de Aprendizes Marinheiros em Buritizeiro, o Sobrado Tiburtino e o Vapor Benjamim Guimarães em Pirapora, os fazedores de viola e violeiros em Ibiaí e as Folias e Ternos de Reis de São Romão e Januária.

Como se pode perceber, tomando apenas as cidades com algum tipo de ligação com Guimarães Rosa, Minas já são realmente muitas. E olha que nem falamos de Ouro Preto, Mariana, Paracatu, São João Del Rei, Tiradentes, Araxá, Caxambu, Uberlândia, Congonhas, Montes Claros e tantos outros tantos municípios que guardam uma vasta lista de patrimônios protegidos. E para que você possa acompanhar um pouco mais sobre o tema, nós, do Lei.A, fizemos uma análise dos patrimônios culturais tombados existentes em Minas Gerais.

Saiba o que é um tombamento nesse conteúdo produzido pelo Lei.A: ://leia.org.br/conheca-o-dossie-do-iepha-pelo-tombamento-estadual-da-serra-do-curral/)


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Patrimônios estaduais

No Brasil e em Minas Gerais, existem três níveis de tombamentos (proteção legal) de bens: municipal, estadual, nacional.

O tombamento pode ser feito pela União por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); pelo Governo Estadual através do Conselho Estadual de Patrimônio Cultural (Conep) e do Iepha-MG ou pelas administrações municipais, utilizando leis específicas ou a legislação federal.

Em nível estadual, ou seja, protegidos pelo Iepha-MG sob legislações mineiras, existem em Minas Gerais, atualmente, 197 patrimônios culturais tombados ou em instrução de tombamento. Destes, 120 (60,9%) são Bens Imóveis, 63 (32%) são Conjuntos Paisagísticos e 14 (7,1%) são Conjuntos Históricos.

Os Bens Imóveis tombados pelo Iepha-MG relacionam-se às edificações históricas, tais como o Arquivo Público Mineiro em Belo Horizonte, a Capela de Nossa Senhora da Soledade em Congonhas, o Sobrado do inconfidente Domingos de Abreu Vieira em Berilo, a Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres no Serro, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Sacramento, a Capela de Nossa Senhora das Mercês em Mariana e Escola Estadual Professor Botelho Reis em Leopoldina.

Capela de Nossa Senhora da Soledade em Congonhas. Créditos: Iepha


Já os conjuntos paisagísticos são representados por conjuntos naturais, arqueológicos, históricos e arquitetônicos. Entre os bens tombados nesta categoria estão o Complexo hidrotermal e hoteleiro de Araxá, o Conjunto arquitetônico e paisagístico da Vila Elisa, Vila Operária e antiga Fábrica de Tecidos Marzagão em Sabará, o Conjunto arquitetônico e paisagístico e acervo do Museu Mariano Procópio em Juiz de Fora; a Serra de São Domingos em Poços de Caldas, o Pico do Itabirito em Itabirito e o Conjunto arquitetônico, paisagístico e arqueológico das Escolas Dom Bosco em Ouro Preto.

Conjunto arquitetônico e paisagístico e acervo do Museu Mariano Procópio em Juiz de Fora. Créditos: Iepha


Por fim, os Conjuntos Históricos referem-se aos conjuntos urbanos que remetem a ocupação das cidades de Minas Gerais. Nesta categoria estão o Núcleo Histórico de Córregos em Conceição do Mato Dentro, o Centro Histórico de Santa Luzia e o Centro Histórico de Brumal em Santa Bárbara.

Centro Histórico de Brumal em Santa Bárbara. Créditos: Elvira Nascimento

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Patrimônios tombados pelos municípios 

Os municípios mineiros também possuem políticas para a proteção dos patrimônios culturais existentes em seus territórios. De acordo com dados disponibilizados pelo Iepha-MG, a partir do ICMS Patrimônio Cultural de 2019, são mais de 3.200 patrimônios culturais tombados no nível municipal. As regiões Central, Sul de Minas e Zona da Mata concentram mais de 65% dos patrimônios culturais tombados pelos municípios mineiros.

Os tombamentos municipais são, em sua maioria, de Bens Imóveis, totalizando 2.302 patrimônios culturais (72% do total). Como exemplos de Bens Imóveis tombados pelos municípios mineiros, têm-se o Prédio da Estação Ferroviária de Porto Novo em Além Paraíba, o Chafariz Dom Rodrigo em Ouro Preto, a Fachada frontal do Colégio São Domingos em Araxá, a Estação Ferroviária em Cláudio e a Igreja de São Sebastião de Pouso Alegre em Paracatu. Novamente, destaca-se que a maioria dos Bens Imóveis se localiza nas regiões Central, Sul de Minas e Zona Mata de Minas Gerais. 

As demais categorias de tombamento municipal são os Conjuntos Paisagísticos, os Bens Móveis e os Núcleos Históricos. Os Conjuntos Paisagísticos tombados pelos municípios mineiros totalizam 686 patrimônios culturais, o que representa 21% dos tombamentos totais. São exemplares de Conjuntos Paisagísticos: o Conjunto Arquitetônico Urbanístico e Paisagístico da Praça Getúlio Vargas em Alfenas, a Praça e Jardim Santana em Barroso, a Cachoeira Grande em Buritizeiro, o Conjunto Paisagístico e Natural Pedra Branca em Caeté, a Gruta do Espigão em Coração de Jesus, o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Estação em Engenheiro Navarro e as Cachoeiras de Curral das Éguas, de Paina, do Frade, Grumixá e Ponte de Pedra em São Gonçalo do Abaeté.

Praça e Jardim Santana em Barroso. Créditos: Barroso em Dia

Os Bens Móveis são representados por cruzeiros, monumentos, bustos e expressões artísticas dos municípios mineiros, tais como o Cruzeiro do Bonfim em São Gonçalo do Pará, o Monumento a Tiradentes em Tiradentes, o Monumento Anita Garibaldi em Juiz de Fora e os Túmulos do Dr. Lundi e todas as suas áreas de entorno em Lagoa Santa. Os Bens Móveis totalizam 169 tombamentos municipais em Minas Gerais, correspondendo a 5% do total.

Por fim, são 54 Núcleos Históricos tombados pelos municípios mineiros, o que representa 2% do total dos bens tombados municipalmente. Exemplos deste tipo de tombamento são o Núcleo do Centro Histórico de Caeté, o Núcleo Histórico do Itacolomi em Conceição do Mato Dentro, Núcleo Histórico remanescente de quilombola de Santana do Caatinga em João Pinheiro, o Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Mariana, Conjunto Urbano e Ferroviário Rodrigo Silva em Ouro Preto, o Núcleo Histórico de Paracatu e o Núcleo Histórico do Centro de São Francisco.

Considerando apenas os dados de tombamento do Iepha-MG e dos municípios de Minas Gerais descritos até o momento, Minas Gerais já registra mais de 3.300 patrimônios culturais identificados em mais de 600 localidades.



Patrimônios nacionais

Ainda existem mais de 200 patrimônios culturais tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) dentro do território de Minas Gerais.

Entre os bens tombados pelo Iphan estão a Igreja de Nossa Senhora das Mercês em Mariana, a casa da Fazenda da Boa Esperança em Belo Vale, as ruínas da Fábrica de Ferro Patriótica em Ouro Preto, a Casa da Chica da Silva em Diamantina, a Casa de Saúde Carlos Chagas em Lassance, e o Conjunto histórico, arquitetônico e paisagístico de Cataguases. 


Patrimônios registrados

Ainda há inúmeros patrimônios culturais que não são tombados, mas são registrados pelos municípios, Estado de Minas Gerais e Brasil. 

Por exemplo, o Iphan registrou como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais: o Modo Artesanal de fazer o Queijo de Minas, o Ofício de Sineiros, o Toque dos Sinos, o Jongo, a Roda de Capoeira e Ofício dos Mestres de Capoeira. 

O Iepha-MG e os municípios mineiros já registraram mais de 2.700 patrimônios culturais ligados às celebrações, aos lugares e aos saberes, como, por exemplo, a Folia do Engenho Velho em Perdizes, a Companhia de Folia de Reis Estrela da Guia em Frutal, os três Reis Magos a caminho de Belém com os seguidores da 2ª geração da família Tomaz em Iturama, os violeiros de São Sebastião do Paraíso, a Cultura Maxacali, o Modo de fazer o queijo artesanal da região de Araxá, as Apanhadoras de Flores Sempre-Vivas e o Modo de fazer o queijo artesanal da região do Serro.

Apanhadoras de Flores Sempre-Vivas. Créditos: Repórter Brasil


#aja
Base de patrimônios georreferenciados

De fato, como apontou Guimarães Rosa, Minas são muitas e poucos são aqueles que conhecem as mil faces das Gerais. Inaugurando uma nova fase e colaborando para dar visibilidade à diversidade de Minas Gerais, o Lei.A passará a disponibilizar, em sua plataforma digital de dados oficiais georreferenciados, as bases de consulta dos patrimônios culturais. Todos os mais de 4.000 patrimônios culturais registrados e tombados em Minas Gerais podem ser visualizados em mapa, sendo filtrados por tipo e por município. Portanto, CONHEÇA os patrimônios culturais, MONITORE o seu município e AJA em proteção da cultura mineira.

Enquanto ainda não lançamos a base com os dados do patrimônio cultural, fica o convite para você ir se familiarizando com a nossa plataforma digital.

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