Ambientalistas históricos que atuam na região debateram técnicas de comunicação para mobilização social. Objetivo é ampliar a comunicação direta entre os defensores da Serra da Moeda e a população mineira. Lei.A ainda promoverá mais duas oficinas neste mês
Como produzir e editar com qualidade vídeos e fotos pelo telefone? Quais são os principais aplicativos gratuitos e como usá-los, desde já, a serviço da proteção do meio ambiente? Estas foram algumas das questões levantadas no último domingo, durante uma oficina de midiativismo realizada pelo Lei.A com o apoio da ONG Abrace a Serra, que reuniu ambientalistas que atuam na região. Localizada ao sul da cadeia de montanhas do Espinhaço, a Serra da Moeda é fonte de água para toda a Região Metropolitana de Belo Horizonte.
“O Lei.A é um observatório ambiental criado com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais com o objetivo de ampliar o controle social por meio da comunicação. E a meta da oficina foi justamente essa: empoderar ainda mais os cidadãos, coletivos e entidades da sociedade civil para que possam se comunicar melhor e de forma mais direta com a população”, destacou Leonardo Ivo, integrante do Lei.A e presidente da Associação dos Observadores do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural de Minas Gerais, responsável pela iniciativa do observatório ambiental.

A produção e a edição de vídeos e fotos com qualidade pelo telefone foram tema da oficina realizada no último domingo. Créditos: Lei.A
Integrante da ONG Abrace a Serra, Cleverson Vidigal foi um dos participantes do evento. Segundo ele, a atividade contribuirá para a mobilização em torno do 11º Abraço à Serra da Moeda. Maior evento anual em defesa da região, o “abraço” deve reunir mais de 5 mil pessoas no dia 21 de abril, na rampa de vôo livre Topo do Mundo (BR-040). Entre as reivindicações, estará a cobrança pela aprovação do projeto de lei 1451, que cria o Monumento Natural Mãe D’Água. A proposta prevê a criação de uma área protegida equivalente a 500 campos de futebol onde estão hoje 30 nascentes que abastecem de água a cidade de Belo Horizonte.
“Ficamos muito entusiasmados porque é mesmo o que a gente precisa: um suporte para que o evento Abrace a Serra jamais caia no esquecimento. Outra coisa importante é o envolvimento da comunidade, que pode fazer suas próprias fotos e vídeos e suas denúncias diretamente pelas redes sociais. Isso vai transformar a luta em um processo mais fácil de ser divulgado”, destacou.

Oficina também mostrou quais os principais aplicativos gratuitos que podem ser usados a serviço da proteção do meio ambiente. Créditos: Lei.A
A oficina realizada no último final de semana foi a primeira realizada pelo Lei.A neste mês. No próximo final de semana, Congonhas irá receber o evento e, no final de abril, será a vez da cidade de Itabirito.
Ameaças à Serra da Moeda
Conheça, abaixo, algumas das principais ameaças à Serra da Moeda mencionadas pelos ativistas durante a oficina e que devem ser alvo de debate durante a 11a edição do Abraço à Serra:
- Reativação da Mina da Serrinha: A mineradora Ferrous quer instalar na Serra da Moeda um novo empreendimento, capaz de produzir mais de 10 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Batizado de Projeto Serena, o negócio inclui uma mina com duas usinas de beneficiamento, um mineroduto e um aqueduto para recirculação de água, ambos com 16 quilômetros de tubulação subterrânea (sentido BR-040/ sede de Brumadinho). Se instalado, o empreendimento também levará à criação de uma nova barragem de rejeitos na região em uma área superior a mil campos de futebol. Segundo integrantes da Abrace a Serra, o empreendimento ameaça o lençol freático e a futura disponibilidade de água para o abastecimento público da população de Belo Horizonte.
- Impactos da fábrica da Coca-Cola: A relação entre a instalação de uma fábrica da Coca-Cola em Itabirito e a brusca redução na vazão de água para o abastecimento público das comunidades de Suzana e Água de Campinho também é motivo de luta para a Abrace a Serra. Representantes da organização alegam que os poços perfurados para abastecer a fábrica extraem água do aquífero Cauê, que alimenta nascentes da Serra da Moeda. Segundo os relatos, a nascente de Campinho chegou a secar completamente em abril de 2016 e a população de 300 habitantes passou a ser abastecida por caminhões pipa enviados pela Coca-Cola. A ONG alega, ainda, que a extração de água foi autorizada sem a apresentação do devido estudo prévio de impacto ambiental.
Instalação do Complexo Residencial CSul: Outro tema que a organização pretende levar ao conhecimento da população é a instalação do Complexo Residencial CSul Lagoa dos Ingleses, a ser implantado na região do Alphaville, em Nova Lima. O complexo, que ocupará uma área de 27 milhões de metros quadrados, tem demanda de mais de 2,3 milhões de metros cúbicos de água por mês e recebeu parecer favorável da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad) mesmo sem ter apresentado estudos hidrogeológicos prévios consistentes que confirmem sua viabilidade ambiental. Por ação dos ativistas junto aos Conselhos do Parque Estadual do Rola Moça e da Área de Proteção Ambiental (APA) Sul, o parecer está sendo reanalisado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).