Conheça os perigosos caminhos dos minerodutos em Minas Gerais

Terceira matéria da série do Lei.A traz um panorama do transporte em dutos de minério no Estado. Todos os minerodutos com licença de operação em MG estão paralisados em decorrência de acidentes

Os quatro minerodutos que possuem licença de operação em Minas Gerais estão parados por causa de acidentes minerários. Três deles pertencem à Samarco e estão fora de uso desde o rompimento da barragem de  Fundão em Mariana, em novembro de 2015, quando a operação da empresa foi paralisada. O quarto, da Anglo American, foi interditado após os dois vazamentos que ocorreram em março.

Outros três minerodutos estão em fase de licenciamento junto ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e pertencem às empresas Ferrous Resources, Sul América de Metais (SAM) e Manabi Logística S.A.. Somados aos quatro anteriores, se já estivessem em operação, passariam por 123 cidades e teriam 3.119 km de tubos (distância aproximada de Belo Horizonte a Santarém, no Pará). Juntos, eles terão capacidade para transportar aproximadamente 146 milhões de toneladas de minério por ano (o equivalente ao peso de cerca de 180 mil carros populares).

Projetados para funcionar 24 horas por dia, os quatro que possuem licença de operação têm autorização para captar dos rios mineiros 7.400 m³ de água por hora (cerca de três piscinas olímpicas). Quando aqueles que estão em processo de licenciamento entrarem em operação, esse volume chegará a quase 20 mil m³ por hora, o suficiente para suprir o abastecimento de 2,9 milhões de mineiros ou metade de todo o consumo da Região Metropolitana Belo Horizonte no mesmo período.

De todos, o maior mineroduto é o da Anglo American, com 520 quilômetros de extensão. O empreendimento que possui autorização para captar maior quantidade água é o duto Vale do Rio Pardo, da SAM – 6.200 m³ de água por hora (ou duas piscinas olímpicas e meia), que liga o município de Grão Mogol, no Norte de Minas, a Ilhéus, na Bahia. O mais adiantado para começar a operar é o mineroduto Morro do Pilar, que parte de Morro do Pilar, em Minas Gerais, e vai até Linhares, no Espírito Santo. A Manabi, empresa responsável, recentemente retomou as atividades na região da mina e entrou com pedidos de licença de instalação e operação no Ibama e projeta começar a operar em 2021.

 

 

Modo de funcionamento dos minerodutos

Pela sua extensão (todos possuem ao menos 400 quilômetros), número de municípios envolvidos, rompimentos recentes e o enorme consumo de água, os minerodutos chamam a atenção. Seu modo de funcionamento prevê que a água seja coletada nos rios mineiros e descartada no mar. A permissão para utilizar os recursos hídricos é concedida pelo Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam), órgão subordinado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

As empresas afirmam que os minerodutos são menos poluentes para transportar minério do que as rodovias. Porém, o custo do transporte de minério por dutos é 18 vezes menor para as mineradoras do que o escoamento por ferrovias, o que torna o empreendimento lucrativo. Segundo dados das próprias empresas, o custo operacional via ferrovia é, em média, 18 dólares por tonelada. Pelos minerodutos, a média gira em torno de 1 dólar.

Outra crítica de ambientalistas é que na maioria da vezes não há o reaproveitamento do recurso hídrico. A Anglo American, por exemplo, sustenta que parte da água usada nos dutos é reutilizada, mas não informa o volume e não detalha como isso é feito. A Manabi informa que seu projeto não prevê reuso da água usada no mineroduto, mas que trata e filtra a água antes do seu descarte no mar. Já a Samarco afirma que reaproveita nos minerodutos a mesma água utilizada no processo de beneficiamento do minério.

E você? Concorda que as águas dos nossos rios se transformem em polpa de minério e depois sejam jogadas no mar? O Lei.A preparou um raio-x dos minerodutos de Minas Gerais para que o leitor possa conhecer mais sobre o assunto e agir.

  • Leia as outras duas matérias sobre os vazamentos do mineroduto na Zona da Mata feitas pelo Lei.A. Clique aqui e aqui
  • Confira a íntegra da matéria feita pelo Lei.A sobre as divergências envolvendo o uso de tecnologias alternativas aos barramentos em Minas. Clique aqui.
  • Para ler a nota técnica na qual o Ministério Público de Minas Gerais destaca as principais divergências entre os projetos de lei 3676 e 3695, de iniciativa popular, clique aqui.
  • Para enviar mensagem aos deputados eleitos com votos do seu município, cadastre-se na nossa plataforma, www.leia.org.br. Clique em algum dos temas ambientais, entre em “De Olho no Mapa” e saiba todos os detalhes sobre cada município mineiro. À esquerda, você pode procurar dados sobre cada cidade e, à direita, ver quais deputados foram votados em sua região. Escolha os deputados para quem você quer enviar o seu recado.

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