Estação Ecológica de Fechos, responsável por abastecer com água 30 bairros de Belo Horizonte, vive ilhada em meio a sérias ameaças ambientais e econômicas
Se algo interrompesse a água que chega à sua casa, você aceitaria isso calado? Se soubesse do perigo antes, deixaria acontecer para só depois lutar para resolver?
Esses são questionamentos reais e imediatos para cerca de 200.000 pessoas da Região Metropolitana de Belo Horizonte que dependem do manancial de água vindos de uma Estação Ecológica chamada Fechos. Em 10 anos, a vazão da água captada por lá caiu 15% e ela pode acabar totalmente nas próximas décadas.
A Estação Ecológica de Fechos tem 602 hectares (600 campos de futebol) e foi criada com a finalidade de proteger a Bacia do Ribeirão dos Fechos, além de remanescentes de Mata Atlântica e áreas de campos rupestres, quartzíticos e ferruginosos. Está situada ao lado da BR-040 e em sua área estão 14 nascentes. Abriga ainda espécies consideradas em extinção como o chibante, mutum-do-sudeste, capoeira, macuco, pavó e jacu-açu.
Mas afinal de contas: O que ameaça esta unidade de conservação, que é uma verdadeira guardiã da água que você bebe?
O avanço da expansão humana por meio da expansão urbana, da mineração e do lançamento de esgoto doméstico e industrial são ameaças reais à Estação Ecológica de Fechos e seu manancial, fonte utilizada para consumo público.
Quais são as ameaças à Estação Ecológica de Fechos?
Conflito de interesses: Água X Mineração
Uma característica da região onde se encontra a Estação Ecológica de Fechos é a presença dos chamados aquíferos. Estes são formações geológicas que criam uma espécie de caixa d’água natural. Eles retém as águas subterrâneas que são disponibilizadas para a superfície por meio de afloramentos e nascentes. Daí surgem 14 dessas importantes fontes de água, classificadas como nascentes de Classe Especial (destinada ao abastecimento para consumo humano ou à preservação de espécies aquáticas), que estão no interior da unidade de conservação. Todas elas são fundamentais para o abastecimento de água na capital.
No entorno da Estação Ecológica de Fechos estão as minas de Capão Xavier, Capitão do Mato, Mar Azul, Minas Abóboras e Tamanduá, que pertencem à Vale. Em 2011, a mineradora apresentou aos órgãos ambientais, uma proposta chamada: Projeto Vargem Grande que visa ampliar a exploração de minério na região, expandindo suas atividades em Nova Lima, Belo Horizonte, Rio Acima e Itabirito.
O negócio prevê a produção de 25 milhões de toneladas de ferro por ano em áreas que deverão impactar mais de 20 espécies ameaçadas de extinção, além de várias nascentes, segundo reconhece o próprio Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pela empresa ao governo de Minas. Segundo ambientalistas da região, a empresa pretende expandir a Mina Tamanduá que já está a menos de 1.000 metros de Fechos, até quase o limite da Estação Ecológica.
Os ambientalistas dizem que a expansão da atividade minerária no entorno da Estação Ecológica, pode interferir no abastecimento dos córregos Fechos e Tamanduá. Este último, junto com outros mananciais, abastece o ribeirão Macacos, importante afluente do rio das Velhas, que é responsável por parte do abastecimento de água da população de Belo Horizonte.
Como a atividade minerária provoca o rebaixamento do lençol freático, o temor dos ambientalistas é que, com a ampliação da extração de minério, algumas nascentes que alimentam esses córregos possam secar, comprometendo o abastecimento de Belo Horizonte e Nova Lima. No dia 22 de agosto, quando os impactos da exploração minerária no chamado Quadrilátero Ferrífero (área na qual se insere Fechos) foram discutidos em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a COPASA, empresa pública responsável por tratar e distribuir água para Belo Horizonte e região, admitiu que desconhece a real capacidade dos aquíferos locais em vista do que já foi autorizado por meio de outorgas (liberação dada pelo Estado para os usuários da água).
Além disso, o problema da degradação da Estação Ecológica de Fechos e seu entorno vai além Mineração. A região vem sofrendo também outros impactos que comprometem sua integridade, como a expansão desordenada de bairros e loteamentos no seu entorno, a poluição causada pelo lançamento de esgoto doméstico e industrial no córrego dos Fechos; o bota-fora de restos da construção civil e de pneus; o roubo de plantas nativas e ornamentais; os incêndios.
Próxima reportagem: quem vem tentando proteger essa área?
Enquanto as mineradoras utilizam seus recursos econômicos e sua influência política para a expansão da mineração na região (é bom lembrar que essas empresas estão entre as maiores financiadoras de campanhas eleitorais em Minas Gerais), a sociedade civil vem lutando para defender a Estação Ecológica de Fechos.
Ambientalistas e moradores estão agindo para garantir a preservação da biodiversidade e da manutenção da água de qualidade que brota dali. Para isso é fundamental que a área à sudeste de Fechos, a única adjacente à estação ecológica, não ocupada por loteamentos ou atividade minerária, seja preservada permanentemente. E é sobre isso que abordará a próxima matéria da nossa série especial “O caminho da água”.
Nós do Observatório Lei.A vamos mostrar que existe um projeto de ampliação da Estação Ecológica de Fechos tramitando na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que pode ser uma das soluções para minimizar os impactos que vêm sofrendo, aumentando a conservação e preservação das suas principais nascentes e espécies da fauna e flora.
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[…] mesmos onde existem grandes reservas de água, inclusive para abastecer cidades inteiras. (clique aqui e leia uma reportagem do Lei.A que explica mais sobre essa […]
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[…] Saiba mais sobre o abastecimento de água de Belo Horizonte no link. […]
[…] do assunto em matérias anteriores (link) (link), sobre projetos minerários que avançam sobre os aquíferos do Sinclinal Moeda. As […]
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